terça-feira, 28 de junho de 2011

Descanse em paz, Encontro Internacional de RPG.

Essa época do ano e clima frio me lembram o EIRPG...

O EIRPG (Encontro Internacional de RPG) era um evento organizado por editora paulistana de RPG, quadrinhos e jogos de estratégia que acontecia todos os anos na cidade de São Paulo. O Evento reunia jogadores de RPG, CCG (Collectible Card Games), jogos de tabuleiro e estratégia e também outras tribos como fãs de Animes, quadrinhos, ficção e fantasia em geral.

O 1° EIRPG foi em 1993 e a tradição seguiu até 2008. Nesse período, a organização do Evento trouxe convidados ilustres com Mark Hein•Hagen, autor de Vampiro A Máscara, Steve Jackson, autor de GURPS, e muitos outros. O Encontro, ou Convenção como também era conhecido, começou no Ibirapuera, depois foi transferido para o Mart Center e, em suas últimas edições, acontecia no Colégio Marista.

Além da editora organizadora, outras lojas de jogos, filmes e livros participavam. Era possível comprar livros e jogos nacionais e importados e, para muitos, era uma das únicas chances de comprar alguns dos livros. O RPG, especialmente no começo dos anos 90, não era muito difundido e era bem difícil achar algum material fora da cidade de São Paulo.

Era também um espaço para trocas. Sempre havia pessoas vendendo ou comprando livros e jogos usados e os organizadores promoviam inclusive uma espécie de leilão de materiais usados.

Fazer contatos e novos amigos também era uma das atrações do Evento. Ainda sem internet, era complicado encontrar novos jogadores para o seu grupo. Por exemplo, durante muito tempo, o meu grupo acreditava ser o único grupo de RPG na nossa cidade. Acredito que isso acontecia com outros grupos também. No EIRPG era mais fácil fazer contatos, trocar telefones e as vezes descobrir jogadores da sua própria região.

Eu participei de todas as edições do Encontro entre 1995 e 2008 com exceção de 1998 e 2006. Na maior parte deles eu atuei como Mestre e jogador.

Nos anos 90 e começo dos 2000, participar da Convenção era quase um ritual para os meus amigos e eu. Morávamos todos numa cidade do litoral de São Paulo na época e todos os anos nós alugávamos uma van para ir à Convenção. As vezes participávamos durante dois dos três dias do evento. As vezes, apenas um.

Quando a data da Convenção era anunciada, os Mestres do grupo corriam até a banca especializada em RPG da cidade vizinha para pegar os formulários de inscrição (depois de algum tempo passamos a recebê-lo via mala direta) e enviávamos nossa inscrição junto com o resumo de uma aventura para os organizadores.

As semanas seguintes eram de ansiedade e preparação. Ansiedade porque a resposta com a aprovação da aventura demorava. Preparação porque queríamos mestrar aventuras bacanas. Os Mestres inscritos escreviam suas aventuras e faziam playtest com o grupo.

Receber a confirmação da inscrição era fantástico. Além de fazer bem para o ego, os Mestres ganhavam camisetas que eram depois exibidas como troféus, lanches e as vezes algum brinde como um livro ou uma revista.

Um pouco antes de 2004, nosso grupo já estava separado. Alguns tinham obrigações de trabalho, família, outros mudaram de cidade e outros ainda perderam o interesse. O EIRPG ainda servia como ponto de encontro para alguns de nós mais para bater papo e matar saudades do que para jogar.

Não sei dizer a partir de que ano eu comecei a sentir isso mas em algum ponto dos anos 2000 a qualidade do Encontro começou a cair. A organização parecia aceitar qualquer aventura (a descrição de uma das aventuras que vi era “ batatinha quando nasce esparrama pelo chão”), havia poucos sistemas diferentes disponíveis para jogo. A organização começou a cobrar ingressos mas não oferecia muito mais do que quando o evento era de graça.

A partir de 2009 não houve mais EIRPG. Até hoje não vi uma explicação oficial da organização. Já ouvi boatos e também a explicação de alguém que seria funcionário da editora. O que se diz é que ficou economicamente inviável realizar o encontro. Sempre achei essa explicação estranha. Sim, acredito que seja um evento caro de se realizar. E sim, acho que o RPG ficou tão popular aqui no Brasil quanto ele pode ser. E isso não é muito. Mas é fato também que cada vez mais pessoas estão interessadas em outras coisas que o evento oferecia: jogos de estratégia, livros e filmes de fantasia, cultura oriental. Talvez haja outras razões ou simples falta de interesse.

O fato é que, para muitas pessoas e por muitos motivos diferentes, o Encontro International de RPG vai fazer falta.

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